Que o cachorro sempre foi um bom amigo do homem isso ninguém duvida. Inúmeras são as demonstrações de amizade e fidelidade desses animais para conosco. Eu pessoalmente não sou, digo não era, uma apaixonada por cães. Na verdade sempre tive muito medo deles.
Lembro de ir visitar minha tia. Eu morava num apartamento e minha tia morava em uma casa com um enorme cachorro. Lembro que ele era grande, “amarelo” e vivia na corrente. Lembro de reunir toda a minha coragem para passar a mão em sua cabeça e ele... Nhoc! Lascou uma “bocada” na minha perna. A mordida só não foi maior porque ele estava preso na corrente e eu estava usando uma grossa calça “LEE”.
Em outra ocasião minha prima teve uma de suas orelhas quase que decepada por um “cachorro amigo”.
Cães sempre me assustaram.
Meu pai teve vários “cachorros de guarda” em sua oficina. Alguns deles acabaram indo para nossa casa... Mesmo assim eu nunca chegava muito perto deles... Queria distancia.
Quando eu era adolescente, uma amiga teve um cão “pequinês”. (Ainda existe essa raça?) Era uma fêmea e se chamava Bambina. Morreu em 1975 com suspeita de “raiva”.
Ela foi a responsável por umas 80 pessoas irem diariamente, por longos 30 dias no hospital tomar injeções anti-rábicas. Eu não fui uma delas.
A Dra. Maria Tofani era a médica responsável pelo controle da raiva na ocasião e queria que eu tomasse a vacina, eu retrucava:
- eu só encostei nela uma única vez, e mesmo assim sem querer.
- Mas minha filha, você fez as unhas, retirou cutícula. Pode ter sido contaminada!
- Não, eu não vou passar 30 dias tomando injeções!
Decisão tomada passei 90 terríveis dias (acho que este era o tempo de incubação da raiva), pois depois de haver recusado a vacina e ver aquela multidão ser vacinada comecei a sentir medo. Um medo tão grande que num determinado dia tive uma crise de falta de ar que acreditei estar com a doença! Como diz o mineiro tive um baita “piti”.
Enfim, minhas experiências com cães não tinham sido boas!
Bem, isso até eu ter os meus filhos.
Tentei ludibria-los de todos os jeitos. Dizia a eles que morávamos em apartamento e não podíamos ter um cachorro, depois quando nos mudamos para uma casa comecei a comprar passarinhos, coelhos, hamster, periquitos...
Todos esses animais passaram alguns dias em casa. O interesse das crianças por esses bichos acabava, o bicho fugia, ou era comido por algum gato. Até que um dia eles ganharam dois pintinhos. Um deles morreu logo! Não deu tempo das crianças se apegarem a ele, mas o outro deu de crescer que era uma beleza!
Eu olhava para aquela criatura cheia de penas e imaginava o que faria com aquele “ser” quando ficasse maior.
Definitivamente não havia espaço para um “frango” na minha vida.
E ele já não cabia dentro de casa. Sujava tudo, não era educado, começava a bater asas e soltar penas.
Resolvi coloca-lo no banheiro do jardineiro...
Péssima ideia! Esqueci de fechar a tampa do vaso!
Horas depois quando fui libertar o “frangote” no banheiro vi uma coisa branca boiando no vaso! Pernas para cima, inerte, todo molhado! O frango tinha se afogado no vaso sanitário.
Me senti uma assassina!
Foi uma tragédia para meus filhos. Foi o encontro deles com a “perda”.
Depois desta “tragédia” finalmente ficou resolvido que daríamos um cachorro para eles.
Na verdade, como meu aniversário estava próximo eles resolveram “graciosamente” me presentear com uma cachorra.
Agora temos 3 cães aqui em casa. Duas barulhentas e briguentas Duschaund e uma incansável Border Collie. Agora por onde vou os cachorros me seguem. Os “nossos” e o dos outros também. Excetuando as raças ferozes, eu já não tenho medo deles. Gosto deles me preocupo com eles e me vejo levantando altas horas da madrugada para ver se estão agasalhados e alimentados. Meus filhos e meu marido que são “apaixonados” por cães ? Simplesmente dormem!
Mas o assunto é que mesmo hoje em dia gostando de cães eu ainda não me acostumei com o excesso de cuidados que muitas pessoas têm com seus cães.
Para mim cão é cão. Pode ser amigo, fiel, alegre, manso, meigo... Mas é um cão.
Ontem conheci uma senhora que tem uns 40 cães em casa. Não consegue recusar nem “um”, pega todos os que ve abandonados ou que as pessoas abandonam em frente a sua casa. Ela está enfrentando vários processos por causa deles...
Ela me contava sobre seus cães, os cuidados que dispensa para eles e eu simplesmente olhava para o seu rosto e me perguntava:
Por que! ? De onde vem essa paixão tão alucinante por cães!
Acho que Deus ouviu a minha pergunta, pois hoje ao abrir o livro de “São José dos Campos e sua História de Age Junior”, li um artigo referente aos usos e costumes dos nossos índios que me esclarece de onde vem toda essa paixão...
“o nativo estima tanto os seus cachorros que nos faz duvidar a quem tenham mais amor, se aos filhos ou a seus cães, ou talvez igualmente aos dois. Há muitas pessoas experientes que dizem que os índios, quando se desloca para fora da Aldeia, tendo algum cachorrinho, a filha ou a mulher dele o leva no colo, enquanto os seus filhos, embora pequeninos, que tenham paciência, têm que ir a pé. Até os índios já mansos e aldeados guardam esta preferencia pelos cães, por isso, quando comem, os tratam bem, sendo um bocado para o dono... e outro para o cachorro. Se a comida é pouca, a mulher e filhos que tenham paciência e jejuem, pois o cachorro tem na mesa do índio o segundo lugar abaixo do dono da casa...” (Revista de História e Geografia numero 7 ).
Ah bem... Agora entendi!