Em Portugal eles se recordam da história de "Inês de Castro" uma dama da corte portuguesa que teve uma morte trágica. Ela era amante do filho do rei e temendo que um dia ela subisse ao trono os conselheiros do rei a mataram.
Contam que quando o príncipe virou rei, num gesto de vingança ele mandou que a desenterrassem e a coroou rainha. Esta vingança de nada adiantou para Inês... E vem daí a expressão:
“Agora é tarde... a Inês é morta”.
História dramática de um amor que perdura mesmo depois da morte.
Ná aqui em São José dos Campos também temos nossa Inês e sua história também é trágica, porém é as avessas da de Portugal; é na verdade uma história de abandono!
A história é narrada em um livro(1) que ganhei e conta sobre o abandono dos tuberculosos que nos primeiros 50 anos do século XX viveram e morreram em São José dos Campos. Naquela época a cidade era um local que acolhia os doentes desta doença.
Ela devia ser jovem, pois o relato não fala de filhos.
Inês vem para São José dos Campos acompanhando marido que estava tuberculoso. Embora sem nenhum sintoma da doença ela ignora os protestos do Dr. Nelson D Ávila e resolve dividir o quarto com o marido tuberculoso.
Eu fico imaginando os cuidados que ela deve ter tido com o esposo nesse período.
Depois de certo tempo Inês acaba contraindo a doença e seu esposo se cura, porem ele não repete o gesto da abnegada esposa.
Ele inventa uma desculpa e vai embora de São José dos Campos.
Nunca mais voltou.
Inês depois de algum tempo morre, na ala das moças pobres, pois além de abandona-la na cidade o marido não mais pagou sua estadia no hospital!
Muitas histórias de abandono aconteceram nesse sanatório.
A tuberculose era naquela época uma doença que isolava a pessoa do convívio com a sociedade. Todos se afastavam dela com medo do contágio e isso incluía a própria família.
Essas pessoas vinham para São José dos Campos sem saber se voltariam ou não para suas casas. O clima de São José dos Campos aliado a uma boa alimentação e alguns procedimentos especificos eram a esperança desses doentes. O pai de uma paciente do sanatório escreveu um livro no qual chamava a cidade de “Ilha da Esperança”. Era só o que eles tinham...
O livro conta também a história de “Toninho”. Um rapaz que foi trazido para se tratar em São José dos Campos pelo pai de uma moça que também estava em tratamento da tuberculosa.
Os pais de Toninho nunca vieram visita-lo. Quem cuidou dele foi a dona da pensão onde ele estava hospedado. Esta era uma situação normal da época. Algumas donas dessas pensões cuidavam dos doentes como se fossem suas mães!
Toninho não melhora e um dia, quando fica muito mal a dona da pensão liga para o pai do rapaz para avisar do grave estado do filho. O pai somente pede para que ela olhe pelo filho...
Na mesma noite Toninho sucumbe a doença. Novamente a dona da pensão liga para o pai de Toninho avisando que o filho morreu e pergunta se o pai quer vir buscar o corpo para enterra-lo...
Toninho está sepultado em São José dos Campos... Seu pai não veio busca-lo, não veio ver o filho...
Sempre que ando no Parque penso em todos aqueles que sofreram naquele local, mas a partir dessa história dois personagens agora tem um nome... Toninho e Inês!
(1) - São José dos Campos – História e Cidade- Coordenação Geral da Serie por Maria Aparecida Papali e Valéria Zanetti)