"O barro de que foram feitas as duas imagens e as mãos
que as confeccionaram são as mesmas. Por isso podemos dizer que Nossa Senhora
de Luján e Nossa Senhora Aparecida são brasileiras", afirma à BBC News
Brasil o pesquisador José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de
Hagiologia.
Nossa Sra Aparecida Padroeira do Brasil |
Nossa Sra de Lujan Padroeira da Argentina |
Hoje
o Santuário de Aparecida esta lindo. Local de devoção, peregrinação e fé.
Apesar de muito venerada no nosso país poucos conhecem sua historia e qual foi o caminho que Nossa Senhora Aparecida percorreu para que a escolhêssemos (ou ela escolheu) para ser nossa padroeira.
Um
detalhe interessante e que poucos sabem é a provável ligação que existe entre a
Nossa Senhora de Aparecida – Padroeira do Brasil com Nossa Senhora de Lujan –
Padroeira da Argentina.
No fim do texto deixarei o link da reportagem feita pela BBC News sobre a possível associação
entre as duas. A leitura é muito
interessante e também estará descrita no final do texto.
Gostaria somente de lembrar a todos que as duas imagens estão atualmente envoltas em um manto que escondem parte da imagem original. A imagem de Nossa Senhora de Lujan esta coberta por uma camada de prata porque o barro da qual foi feita começou a se desintegrar alem do manto e Nossa Senhora de Aparecida recebeu da Princesa Isabel um manto e uma coroa e são dessa forma que as vemos atualmente.
Acima as imagens que consegui na internet mostrando as duas em sua forma original.
Elas são parecidas, mas não são iguais.
Espero
que gostem da informação.
LINK : https://www.bbc.com/portuguese/geral-54475483
REPORTAGEM DA BBC NEWS
Nossa Senhora Aparecida: A imagem da santa venerada pelos argentinos que pode ser de origem brasileira
Edison Veiga - De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil - 11 outubro 2020
Quando visitou o
Brasil, em julho de 2013, na primeira viagem internacional de seu pontificado,
papa Francisco afirmou que a velha rivalidade com os "hermanos" havia
sido resolvida. "Já está totalmente superada, porque negociamos bem: o
papa é argentino e Deus é brasileiro", afirmou ele, bem-humorado.
Se Francisco
incluiu a Catedral Basílica Santuário Nacional de Aparecida, no Vale do
Paraíba, em seu roteiro naquela viagem, é provável que tenha lhe ocorrido que
celebrar a padroeira do Brasil também era uma maneira de se referir
indiretamente à padroeira de sua terra natal, a Virgem de Luján — ou Nossa
Senhora de Luján. Isso porque uma teoria já bastante aceita entre religiosos e
estudiosos de arte sacra faz crer que ambas as imagens são irmãs: feitas na
mesma época e com o mesmo tipo de matéria-prima, há indícios que seriam obras
do mesmo artista — no caso o monge beneditino Agostinho de Jesus (1600-1661).
"O barro de
que foram feitas as duas imagens e as mãos que as confeccionaram são as mesmas.
Por isso podemos dizer que Nossa Senhora de Luján e Nossa Senhora Aparecida são
brasileiras", afirma à BBC News Brasil o pesquisador José Luís Lira,
fundador da Academia Brasileira de Hagiologia.
BAs imagens sacras em questão são as peças originais de Nossa Senhora da Conceição — a representação de Maria, mãe de Cristo, grávida de Cristo — que inspiraram a devoção popular nos dois países. No caso brasileiro, a Nossa Senhora negra encontrada pelos pescadores no rio Paraíba do Sul em 1717 e que hoje segue atraindo milhões de católicos ao santuário erguido em sua honra na cidade de Aparecida. Já a versão argentina chegou à região de Luján em 1630 — e por causa dela ali foi erguido e reúne fiéis no Santuário e Basílica Nossa Senhora de Luján.
No livro Ela É Minha Mãe! - Encontros do Papa
Francisco com Maria, o padre Alexandre Awi Mello, secretário do
Dicastério para os Leigos, Família e Vida — órgão do Vaticano —, conta um pouco
dessa história. "Ambos os povos estão unidos também no coração e na imagem
de Maria Imaculada. E união, de fato, é o que começou a acontecer em torno da
pequena imagem de Luján", escreve ele.
"Diga-se de
passagem que, sendo brasileiro, ao escutar sobre a imagem de Nossa Senhora de
Luján, eu não pude deixar de associá-la à de Nossa Senhora Aparecida. Ambas
representam a Imaculada Conceição, têm praticamente o mesmo tamanho e foram
confeccionadas na mesma região e com o mesmo material", afirma, no livro.
"Alguns estudos têm procurado demonstrar o 'parentesco' das duas imagens
que captaram a devoção mariana de milhões de fiéis, vizinhos e irmanados por
obra da Providência até mesmo em suas padroeiras nacionais. É mais uma
confirmação de que Maria une os povos."
Em conversa com a
reportagem, por e-mail, Mello demonstra cautela. "Daquilo que entendi nas
pesquisas que fiz naquela ocasião [para a produção do livro], não há um
consenso entre os especialistas, mas é possível que ambas imagens tenham sido
feitas na mesma região", diz o padre. "Feitas no Brasil, visto que a
imagem de Luján, segundo os relatos, foi enviada do Brasil para a Argentina."
O secretário do Vaticano conta que na residência de Francisco há uma imagem da
Virgem de Luján e "nos jardins vaticanos estão presentes as duas imagens,
junto a várias outras de diferentes regiões do mundo".
A história
O livro de Mello
traz um resumo de como essa imagem de Nossa Senhora teria chegado à Argentina.
Tratou-se de encomenda (e isso é considerado comprovado entre pesquisadores) de
um fazendeiro português chamado Antonio Frias Sáa, cuja propriedade ficava em Sumampa,
hoje Província de Santiago Del Estero. Era 1630.
"[Ele] pediu a
um de seus compatriotas, que morava no Brasil, que lhe enviasse uma imagem de
Nossa Senhora para colocar na capela de sua fazenda. Seu amigo lhe enviou,
então, duas imagens feitas na região de São Paulo, uma da Imaculada Conceição e
outra de Maria com o menino Jesus nos braços. Em maio daquele ano, as imagens
chegaram ao porto de Buenos Aires, foram acomodadas cada uma em uma caixa e
transportadas por uma carreta rumo ao destinatário", relata o padre.
"Três dias
depois de iniciado o caminho, o comboio fez uma parada a cinco léguas da atual
cidade de Luján (aproximadamente 24 km), na altura de uma localidade chamada
Zelaya, no atual município de Pilar, para pernoitar na Estância de Rosendo de
Trigueros", prossegue. "Conta a história, para alguns considerada
lenda, que no dia seguinte, na hora de partir, os bois não conseguiam mover a
carreta. Depois de várias tentativas frustradas, removeram um dos caixotes da
carreta e os bois começaram a andar sem dificuldade. Intrigados, descobriram
que dentro do caixote estava a pequena imagem da Imaculada Conceição, de 38 cm
de altura, feita de barro cozido. O fato foi interpretado providencialmente e a
imagem deixada na fazenda, dando início assim ao culto daquela que viria a ser
chamada de Virgem de Luján."
Em entrevista à BBC
News Brasil, a historiadora Zenilda Cunha, membro da Associação dos Guias do
Circuito Turístico Religioso e que realizou monitorias no Santuário de
Aparecida por 13 anos, afirma que "há uma relação entre as imagens" e
que certamente a imagem de Luján "é brasileira" e ambas foram
confeccionadas com o mesmo material.
"As fontes
historiográficas sobre a viagem da Santa argentina são unânimes em dizer que é
uma encomenda feita ao Brasil", confirma à reportagem o padre Rodrigo
Vilela, professor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP).
Se a devoção à
santa argentina começou ainda no século 17, contudo, a hoje padroeira do Brasil
só seria encontrada por pescadores nas águas do Rio Paraíba do Sul em 1717. A
hipótese de que a imagem teria ficado submersa por décadas, inclusive, é uma
das possíveis explicações para o fato de a versão brasileira ser mais escura do
que a venerada na Argentina.
"Quem vê uma
imagem percebe a semelhança com a outra. Isso aconteceu comigo. A grande
questão é que uma ficou escura por passar — se contarmos a data em que a imagem
de Nossa Senhora de chegou a Luján e a encontrada em Aparecida, daria 87 anos —
décadas submersa e ter adquirido a tonalidade barrenta da água do rio Paraíba
do Sul. Inicialmente o que as diferenciaria seria isso", acredita Lira.
Oficialmente, Nossa
Senhora Aparecida tornou-se padroeira do Brasil em 16 de julho de 1930, por
decreto do papa Pio 11 (1857-1939). Já o feriado de 12 de outubro foi
instituído bem mais tarde: a lei, sancionada pelo presidente João Figueiredo
(1918-1999), é de 30 de junho de 1980.
Foi o mesmo papa
Pio 11 — e no mesmo ano de 1930 — que reconheceu o patronato da Virgem de
Luján. Durante as comemorações dos 300 anos da chegada da imagem às terras
argentinas, ela se tornou, pela Igreja, não só padroeira da Argentina — como já
era informalmente tratada — como ainda das vizinhas repúblicas do Uruguai e do
Paraguai. A santa ainda foi reconhecida oficialmente como padroeira das
estradas argentinas (em 1944), da Polícia Federal Argentina (1946) e das
ferrovias do país (1948).
A autoria
As imagens não são
assinadas, mas a partir de diversas análises realizadas hoje acredita-se que ao
menos a de Nossa Senhora Aparecida seja obra do monge beneditino Agostinho de
Jesus (1660-1661), considerado o primeiro escultor nascido no Brasil — segundo
a Enciclopédia Itaú Cultural, "o primeiro artista plástico nascido no
Brasil". Carioca, ele viveu um tempo no mosteiro beneditino de Salvador.
Ali teria aprendido o ofício com um homônimo português, o também monge
Agostinho da Piedade (1580-1661) — conforme conta, em artigo, o monge
beneditino João Baptista Barbosa Neto.
Mas se o mestre
usava terracota baiana como sua matéria-prima, o aprendiz, quando se mudou para
um antigo convento de sua ordem que existia em Santana de Parnaíba, passou a
utilizar a argila paulista. A diferença da matéria-prima foi peça-chave para
pesquisadores contemporâneos atestarem a autoria. "Pode haver alguma
divergência isolada, mas, pelas características, o consenso é de que o autor da
imagem é frei Agostinho de Jesus", pontua o pesquisador Lira.
"Ao estudar a
imagem, percebeu-se que ela era feita de barro cinza claro cozido, um barro
paulista, diferente do barro da Bahia, de Pernambuco, de grandes canteiros que
esculpiam em terracota naquele período", afirma a historiadora Cunha. A
análise definitiva foi realizada após o maio de 1978, quando a imagem de
Aparecida foi quebrada em uma tentativa de roubo — durante o restauro, o
material foi amplamente estudado.
Mas e a Virgem de
Luján? "A imagem tem todas as características das feitas por frei
Agostinho de Jesus. Em 1630, ele vivia no Estado de São Paulo, com uns 30 anos
de idade. As características das imagens feitas por ele são rapidamente
identificáveis: forma sorridente dos lábios, queixo encravado, flores em relevo
no cabelo, porte empinado para trás, entre outras", enumera Lira.
"Altura e peso das imagens expostas em Aparecida e Luján são praticamente
iguais. Hoje fica difícil saber o peso exato de Nossa Senhora de Luján por
conta da placa de bronze que a envolve, mas, a altura é praticamente a mesma de
Nossa Senhora Aparecida que tem 36 centímetros de altura e pesa 2,50 kg."
"Portanto, eu
acredito que as imagens de Nossa Senhora de Luján e Nossa Senhora Aparecida são
as mesmas", crava ele. "O autor, indiscutivelmente é o mesmo. O
título, o mesmo, e a imagem nos unem nessa devoção mariana. Sempre que vou à
Argentina, tenho que passar em Luján como quando vou a São Paulo gosto de ir a
Aparecida."
Padre Vilela, por
sua vez, prefere acreditar que ambas as imagens são oriundas de uma mesma
escola, não necessariamente do mesmo autor. "Já foi tentado fazer essa
ligação, mas se for tomada como referência a produção do frei Agostinho de
Jesus, a imagem argentina [considerando quando foi encontrada a versão de
Aparecida] é cronologicamente anterior e, quanto ao estilo, mais rústica, de
acordo com especialistas em história da arte colonial", afirma. "Pelo
menos uma geração anterior."
Pesquisador de
direito canônico, arte sacra e história da arte, padre José Fernandes Lucena,
que já atuou na Argentina, defende a tese de que ambas as imagens foram feitas,
no mínimo, no mesmo ateliê. "A de Nossa Senhora Aparecida é quase certa
que foi feita pelo frei Agostinho de Jesus. Pelos traços, a de Luján ou também
é dele ou de algum discípulo. Ambas são de barro paulista. Se não foi ele, foi
algum discípulo. Saíram da mesma oficina", afirma ele, à BBC News Brasil.
O hagiólogo Lira
acredita que ainda levará um tempo para que essa teoria ganhe o consenso.
"A devoção argentina se iniciou cerca de 87 anos antes e isto a faria mais
antiga. Também a descoberta das semelhanças das imagens é algo recente, digamos
assim", pondera. "Lembro-me de que na transmissão de uma rede de
televisão da visita do papa Francisco a Aparecida, dom Darci José Nicioli,
então bispo auxiliar de Aparecida, se dizia admirado com a informação de que as
imagens eram as mesmas. Imaginemos os fiéis. Penso que mesmo na academia o
assunto ainda seja novo. Eu comecei essas especulações em 2012 quando iniciei
meus estudos de mestrado e de doutorado naquelas terras argentinas e de logo,
ao chegar a Luján, me senti acolhido pela padroeira de minha nação, Nossa
Senhora, a mesma Aparecida."