quinta-feira, 16 de maio de 2013

DONA MARIA


Nossa ida ao Sitio  em plena segunda feira foi um ótimo começo de semana. Afinal , começar uma segunda feira e dar uma escapada para um sítio perto da cidade não é sempre que acontece.
Cheguei atrasada e a conversa já estava “ a meio caminho”. Entrei sentei e fui escutando a D. Maria nos contar algumas histórias...
Gostava de cavalos e trabalhava com o pai na lida com cavalos. Na sua época de menina ela torrava o café e comia com farinha adoçada com garapa. Hoje em dia os filhos não querem saber de ter os mesmos  costumes. Ela sempre trabalhou muito...
“eles  não ponhava a mão”... já ela “ponhava” !
A mãe disse que “era gosto pra ela” mexer com cavalos.
Ela nos contou da Reza da Santa Cruz e das festas na época do “senhor minino”.
Nasceu em uma pequena cidade do interior de São Paulo. Cidade de tropeiros. O pai tinha armazém. Quando tinha uns 14 anos resolveu que queria sair de casa pois não aceitava as ordens que a mãe lhe dava e ela não podia ” responder “ . Hoje em dia, Maria, ” aceita” tudo o que os filhos falam...
 Mas quando conheceu o “Zé Pretinho disse para a mãe :
- Vou “casá” e vou curar a senhora ! ( quis dizer que a mãe não teria mais com quem reclamar e brigar).
Casou assim que completou 15 anos ! O pai não gostou da escolha dela e disse :
- Casar com esse moreno ?
E a mãe :
- Marido é pra ela não é procê!
E Maria nos contou:
- Eu era pinta ! Eu era fogo !
- Minha mãe tinha medo que eu arrumasse barriga !
Casou e teve vários filhos! Foi feliz com o Zé Pretinho, até o dia que ele morreu !
Animada e alegre Maria é uma pessoa feliz. Ajuda os amigos, e sabe benzer tosse comprida e outras coisas... e gostei muito ao ouvi la falar sobre um cachorro que estava quase morto de fome:
“o bichim tava com a vasiiinha lá no fundo da canequinha” !!!!

sábado, 4 de maio de 2013

Sobre Iças e Bitus


Dizem que o povo do Vale do Paraíba tem o costume de comer “formigas”.

Bem não é qualquer tipo de formiga. São Içás, também conhecidas como Tanajuras; a femea da saúva. Os machos são os bitus.

Quem mora por aqui não se admirou quando em maio deste ano a ONU sugeriu “Comer insetos” para reduzir a fome no mundo.

Aqui no Vale do Paraiba para muitos é um prazer e um privilégio... Um manjar !

Somente devemos ficar atentos para não comer as Iças provenientes de lugares onde foi usado algum tipo de inseticida.

Encontrei na internet este texto que copio abaixo na integra por ser muito interessante.

E... Sim! Já comi Iça !

Vamos ao texto :

 “Saúva ou saúba. Chamada carregadeira, sabitu, formiga de roça. As fêmeas chamam-se tanajuras e constituem acepipe tradicional”.
Luiz da Câmara Cascudo

   Uma das tradições indígenas que resiste em toda a região do Vale do Paraíba, é o hábito de caçar e comer içás no mês de outubro, costume que remonta aos primórdios da colonização portuguesa no Brasil. No Maranhão, Frei Ivo d’Evreux, no século XVII, teve a oportunidade de assistir a uma caçada às formigas: “Caçam os selvagens somente as formigas grossas como um dedo polegar, para o que se abala uma aldeia inteira de homens, mulheres, rapazes e raparigas. A primeira vez que vi esta caçada, não sabia o que era, e nem onde ia tão apressada gente, deixando suas casas para correr após as formigas voadoras, as quais agarram, metem-nas numa cabeça, tiram-lhe as asas para frita-las e comê-las” (1).

  O Barão de Eschwege, em seu livro “Diário de uma Viagem do Rio de Janeiro a Vila Rica, na Capitania de Minas Gerais no ano de 1811”, registrou o hábito paulista de comer içás: “Ao começar o tempo mais quente do ano, isto é, em outubro, aparecem com asas as formigas grandes, que julgo serem as fêmeas; reúnem-se então aos milhares, à entrada do formigueiro e dali voam em enxame; entretanto, esse estado alado não dura muito; assim cai uma após outra do bando, espalham-se por toda a região. Cada uma, desde que perde as asas, logo trata de cavar a toca e estabelece o novo formigueiro. Na Capitania de São Paulo chamam tanajuras tais formigas. Costuma-se comer as grandes, separar a parte superior e assá-las na frigideira, com toucinho, não sendo mau o seu paladar” (2)

  Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcellos, 4º Conde de Assumar e 3º Governador e Capitão-General da Capitania de São Paulo e Minas Gerais, viajando da cidade de São Paulo para Vila Rica de Ouro Preto, no mês de outubro de 1717, pela Estrada Real do Vale do Paraíba, pernoitou em um rancho de beira de estrada, próximo da Aldeia de São José do Parahyba, atual cidade de São José dos Campos, registrando em seu diário de viagem: “o dono do rancho era um paulista, o qual com generoso ânimo ofereceu a S. Exa. Para cear meio macaco, e umas poucas de formigas, que era com tudo quanto se achava. Agradeceu-lhe S. Exa. a oferta, perguntando a que sabiam aquelas iguarias, respondeu que o macaco era a caça mais delicada que havia naqueles matos circunvizinhos, e que as formigas eram tão saborosas, depois de cozidas, que nem a melhor manteiga de Flanders lhe igualava”.(3)

  O naturalista inglês Charles Frederik Hartt, andando pelas selvas da Amazônia em fins do século XIX, escreveu: “Quando estive na Amazônia, ouvi muitas vezes gabar o gosto da saúva. O sabor picante torna completamente impossível o uso da saúva para outro fim que não seja o da especiaria ou condimento. Adicionadas ao molho de tucupi, estas dão-lhe um gosto muito agradável, como posso asseverar por experiência própria”. (4)

  Em algumas regiões do Brasil, a içá é torrada, moída e usada como chá, para combate a amidalite e qualquer outro tipo de irritação da garganta. No nordeste brasileiro, a içá é considerada um prato afrodisíaco, aconselhado às pessoas portadoras de inibição sexual e na linguagem popular, tanajuras são as mulheres que tem as nádegas muito grandes.

  Monteiro Lobato, em carta a uma prima, moradora em Taubaté, no Vale do Paraíba, escreveu que “a içá é o caviar do povo de Taubaté”.

  Eis trechos dessa carta:

  “Recebi a latinha da içá torrada... Para mim foi muito bom, porque me rendeu o bilhetinho com o pedido, em troca da içá, de um pensamento sobre a içá...
A sugestão me pertubou, porque nunca no mundo ninguém jamais “pensou” sobre a içá – e pelo jeito é realmente coisa “impensamentável”. Mas, já que me pede, faço um esforço e digo que a içá é o caviar da gente taubateana.

  Como você sabe, o famosíssimo e apreciadíssimo caviar da Rússia é a ova dum peixe de nome esturjão; o que é o abdômem (vulgo bundinha) da içá senão a ova da formiga saúva?” (5)

  Em “Caminhos e Fronteiras”, Sérgio Buarque de Holanda faz o seguinte comentário: “...A içá torrada venceu todas as resistências, urbanizando-se mesmo, quase tão completamente como a mandioca, o feijão, o milho e a pimenta da terra. Pretendeu-se que os jesuítas, no intuito de livrarem as lavouras da praga das saúvas, tivessem contribuído para disseminar entre os paulistas o gosto por essa iguaria.

(Clique na imagem para ampliar)

  Nada há de inacreditável em tal suposição, uma vez que já os primeiros escritos de missionários inacianos em terra brasileira, mencionam a içá como prato saboroso e saudável...” (6)

  Caçada e comida de formas diferentes, a içá constitui a alegria e a delícia das populações rurais e urbanas do Vale do Paraíba e durante o mês de outubro, nas tardes quentes e abafadas, crianças, mulheres, velhos e adultos, com varas, galhos de árvores e mesmo com as mãos, ocupam os morros e vales, perseguindo e catando as içás, que, aos milhares, fazem o seu vôo nupcial, atraindo pássaros e homens em busca de alimento, proteína e divertimento, perpetuando uma tradição milenar indígena. As içás, depois de mortas, sem as asas, o ferrão e as pernas, são lavadas em água corrente e torradas com um pouco de gordura ou óleo e sal. Também podem ser comidas como farofa ou fritada e ainda guardadas em latas bem fechadas para serem comidas durante o ano.
Em Silveiras, a Fundação Nacional do Tropeirismo, promove todos os anos, no mês de outubro, o “Festival da Içá”, atraindo pessoas de todas as regiões do Vale do Paraíba e até mesmo de São Paulo e do Rio de Janeiro, para saborearem o delicioso petisco.

José Luiz Pasin

Notas:
1 – Déuvreux, Frei Ivo – Viagem ao Norte do Brasil. Introdução e notas de Ferdinand Denis. Rio de Janeiro, 1929.
2 – Eschwege, Barão de – Diário de uma viagem do Rio de Janeiro a Vila Rica, na Capitania de Minas Gerais no ano de 1811. São Paulo, Revista do Museu Paulista, Volume XXI, 1937, p. 888/889.
3 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Rio de Janeiro, volume 3º, 1939, p. 307/308.
4 – Hartt, Charles Frederik – Contribuição para o Estudo da Etnologia do Vale do Amazonas. Rio de Janeiro, Revista do Arquivo do Museu Nacional, volume 125, 1885.
5 – Florençano, Paulo Camilher & Abreu, Maria Morgado –Culinária Tradicional do Vale do ParaíbaCentro Educacional Objetivo, Fundação Nacional do Tropeirismo e JAC Editora. Taubaté, 1992.
6 – Holanda, Sérgio Buarque de – Caminhos e Fronteiras. Livraria José Olympio Ed. – Coleção “Documentos Brasileiros”. Pág. 64. Rio de Janeiro, 1957.

NOTAS DO MUSEU FREI GALVÃO
- A ilustração é de autoria de Paulo Camilher Florençano. Está na pág. 33 do livro “A culinária tradicional do Vale do Paraíba”, de sua autoria e de Maria Morgado de Abreu. Taubaté, 1992. Publicado pelo Centro Educacional Objetivo, Fundação Nacional do Tropeirismo e JAC Editora.
- O mesmo livro, à pág. 91, traz a receita do preparo da içá, à moda de Taubaté: “Limpam-se as içás das perninhas e cabeças. Em seguida, põe-se de molho em água e sal por cerca de ½ hora. Escorre-se bem e leva-se ao fogo, em frigideira com gordura mexendo-se sempre para não queimar. Quando estiverem bem torradas, acrescenta-se farinha de mandioca, mexendo-se sempre, resultando a farofa, já pronta para ser comida acompanhada de café. Se quiser, coloca-se em pequeno pilão, juntando-se a farinha a gosto, daí resultando uma paçoca de içás”.
- É costume no Vale do Paraíba, que, ao caçar a içá, deve-se repetir a seguinte frase, com ritmo característico, selecionando as formigas:
    Içá pra baixo
    Sabitu pra cima...
- No Estado do Rio de Janeiro a içá é também chamada de Vitu ou Bitu, daí a cantiga:
    Cai cai bitu
    Cai cai bitu
    Aqui na minha mão...
Conselho final: para se caçar içá à beira do formigueiro, sem ser mordido, deve-se ficar com os pés dentro de uma bacia com água.



OUTRO


A.A (Angelino) não gostava de muitas palavras, achava que as pessoas tinham que economizar, até nas palavras. 

L. me contou que seu marido A. dizia que era assim quando trabalhavam na fazenda:

Na fazenda junto com os filhos o S.R. Angelino ficava controlando o banho contra o carrapato do gado.

 Os filhos o ajudavam com o gado... Quando uma res acabava de ser banhada eles gritavam para o pai:

- manda o outro!

O S.R. Angelino parava todo o processo e dizia!

- Não precisa gastar este mundo de palavaras... Fale simplesmente OUTRO!

Os filhos para provocarem o pai repetiam...

- manda outro!

E o seu Angelim...

- eu já disse que não precisa usar este mundo de palavra... Somente OUTRO.

Os amigos mais tarde brincavam com o Afonso quando o encontravam na rua dizendo:

- outro!

Nossa Senhora das Candeias

Mestre Paizinho me contou que dia dois de fevereiro 02 /02 é dia de Nossa Senhora das Candeias.

Devemos desmontar o presépio no dia 2 de fevereiro pois nesse dia a N.Sra das Candeias passa para visita lo e caso não o encontre montado fica muito triste.Caso N. Sra passe e não encontre o presépio ela fica muito triste


 (informação de Fátima e Mestre Paizinho).


Interessante é que tambem nesta data se comemora Iemanja.

N. Sra das Candeias, ou N. SRa da Luz, ou N. Sra dos Navegantes. Nossa Senhora da Candelária.

Índios e seus cães


Que o cachorro sempre foi um bom amigo do homem isso ninguém duvida.  Inúmeras são as demonstrações de amizade e fidelidade desses animais para conosco. Eu pessoalmente não sou, digo não era, uma apaixonada por cães. Na verdade sempre tive muito medo deles.
 Lembro de ir visitar minha tia. Eu morava num apartamento e minha tia morava em uma casa com um enorme cachorro. Lembro que ele era grande, “amarelo” e vivia na corrente. Lembro de reunir toda a minha coragem para passar a mão em sua cabeça e ele... Nhoc! Lascou uma “bocada” na minha perna. A mordida só não foi maior porque ele estava preso na corrente e eu estava usando uma grossa calça “LEE”.
Em outra ocasião minha prima teve uma de suas orelhas quase que decepada por um “cachorro amigo”.
 Cães sempre me assustaram.
Meu pai teve vários “cachorros de guarda” em sua oficina. Alguns deles acabaram indo para nossa casa... Mesmo assim eu nunca chegava muito perto deles... Queria distancia.
Quando eu era adolescente, uma amiga teve um cão “pequinês”. (Ainda existe essa raça?) Era uma fêmea e se chamava Bambina. Morreu em 1975 com suspeita de “raiva”.
 Ela foi a responsável por umas 80 pessoas irem diariamente, por longos 30 dias no hospital tomar injeções anti-rábicas. Eu não fui uma delas.
A Dra. Maria Tofani era a médica responsável pelo controle da raiva na ocasião e queria que eu tomasse a vacina, eu retrucava:
- eu só encostei nela uma única vez, e mesmo assim sem querer.
- Mas minha filha, você fez as unhas, retirou cutícula. Pode ter sido contaminada!
- Não, eu não vou passar 30 dias tomando injeções!
Decisão tomada passei 90 terríveis dias (acho que este era o tempo de incubação da raiva), pois depois de haver recusado a vacina e ver aquela multidão ser vacinada comecei a sentir medo. Um medo tão grande que num determinado dia tive uma crise de falta de ar que acreditei estar com a doença! Como diz o mineiro tive um baita “piti”.
Enfim, minhas experiências com cães não tinham sido boas!
Bem, isso até eu ter os meus filhos.
Tentei ludibria-los de todos os jeitos. Dizia a eles que morávamos em apartamento e não podíamos ter um cachorro, depois quando nos mudamos para uma casa comecei a comprar passarinhos, coelhos, hamster, periquitos...  
Todos esses animais passaram alguns dias em casa. O interesse das crianças por esses bichos acabava, o bicho fugia, ou era comido por algum gato.  Até que um dia eles ganharam dois pintinhos. Um deles morreu logo! Não deu tempo das crianças se apegarem a ele, mas o outro deu de crescer que era uma beleza!
 Eu olhava para aquela criatura cheia de penas e imaginava o que faria com aquele “ser” quando ficasse maior.
Definitivamente não havia espaço para um “frango” na minha vida.
E ele já não cabia dentro de casa. Sujava tudo, não era educado, começava a bater asas e soltar penas.
Resolvi coloca-lo no banheiro do jardineiro...
Péssima ideia! Esqueci de fechar a tampa do vaso!
Horas depois quando fui libertar o “frangote” no banheiro vi uma coisa branca boiando no vaso! Pernas para cima, inerte, todo molhado! O frango tinha se afogado no vaso sanitário.
 Me senti uma assassina!
Foi uma tragédia para meus filhos.  Foi o encontro deles com a “perda”.
Depois desta “tragédia” finalmente ficou resolvido que daríamos um cachorro para eles.
Na verdade, como meu aniversário estava próximo eles resolveram “graciosamente” me presentear com uma cachorra.
Agora temos 3 cães aqui em casa. Duas barulhentas e briguentas Duschaund e uma incansável Border Collie. Agora por onde vou os cachorros me seguem. Os “nossos” e o dos outros também.  Excetuando as raças ferozes, eu já não tenho medo deles. Gosto deles me preocupo com eles e me vejo levantando altas horas da madrugada para ver se estão agasalhados e alimentados. Meus filhos e meu marido que são “apaixonados” por cães ? Simplesmente dormem!
Mas o assunto é que mesmo hoje em dia  gostando de cães eu ainda não me acostumei com o excesso de cuidados que muitas pessoas têm com seus cães.
Para mim cão é cão. Pode ser amigo, fiel, alegre, manso, meigo... Mas é um cão.
Ontem conheci uma senhora que tem uns 40 cães em casa. Não consegue recusar nem “um”, pega todos os que ve abandonados ou que as pessoas abandonam em frente a sua casa. Ela está enfrentando vários processos por causa deles...
 Ela me contava sobre seus cães, os cuidados que dispensa para eles e eu simplesmente olhava para o seu rosto e me perguntava:
Por que! ? De onde vem essa paixão tão alucinante por cães!
Acho que Deus ouviu a minha pergunta, pois hoje ao abrir o livro de “São José dos Campos e sua História de Age Junior”, li um artigo referente aos usos e costumes dos nossos índios que me esclarece de onde vem toda essa paixão...
“o nativo estima tanto os seus cachorros que nos faz duvidar a quem tenham mais amor, se aos filhos ou a seus cães, ou talvez igualmente aos dois. Há muitas pessoas experientes que dizem que os índios, quando se desloca para fora da Aldeia, tendo algum cachorrinho, a filha ou a mulher dele o leva no colo, enquanto os seus filhos, embora pequeninos, que tenham paciência, têm que ir a pé. Até os índios já mansos e aldeados guardam esta preferencia pelos cães, por isso, quando comem, os tratam bem, sendo um bocado para o dono... e outro para o cachorro. Se a comida é pouca, a mulher e filhos que tenham paciência e jejuem, pois o cachorro tem na mesa do índio o segundo lugar abaixo do dono da casa...” (Revista de História e Geografia numero 7 ).
Ah bem... Agora entendi! 
"Uma mulher menstruada não deve chegar perto de uma mulher que está amamentando para não lhe "roubar" o leite "
(Colhido em Campinas - Hospital da Unicamp - outubro 2012

Pe. Anchieta e o Bumba meu Boi


Cida  contou que o folguedo “Bumba meu Boi” foi escrito por Padre Anchieta:

- Anchieta  para explicar aos índios o que era a  ressurreição fez esse teatro.

Ele atemorizava os indígenas com essas palavras:

- Não pequem porque senão vocês vão para o fogo do inferno e lá é um fogo que não acaba, nunca mais, sempre fogo!

ao que os índios respondiam:

- Nossa ! Mas que coisa boa, então não vamos ter de catar lenha!

O índio não tinha noção de pecado. Uma pureza ! Só caçar, pescar , criar os filhos, não tinham ganancia nem ambição, orgulho.

obs : Anchieta, usou estas alegorias  para fins religiosos, políticos, econômicos e sociais.

Antigamente...

Antigamente... antes da internet, da TV, do rádio, do gramophone, antes dos livros com gravuras coloridas o mundo devia ser muito silencioso.

Talvez por isso o povo cantava mais...

O canto quebrava o silencio... aquele silencio longo... doloroso ... de horas que não passam... se arrastam...silencio quebrado pelas badaladas dos sinos das igrejas, do trote dos cavalos, do barulho da criação... 

Hoje o mundo é muito barulhento e intrometido... a noticia entra dentro da casa da gente sem pedir desculpa e vai ocupando tudo...

Eles Riram ? Agora eles Viram !


Noite muito fria de junho, estamos saindo do Atelier do Grupo Piraquara no Parque da Cidade! Uma neblina repentina baixa sobre a cidade. 
O frio, à noite, o parque vazio, pouca luz e a neblina montaram o cenário perfeito para o Bene se lembrar de que os vigias tinham algumas histórias para me contar.
M. e W. nos contam que o Parque tem seus fantasmas. Ele já os viu por diversas vezes. São vários. Não sabe o “porque” ou “para que” eles aparecem, mas o certo é que depois da meia noite estes seres surgem.
Uma mulher de longos cabelos negros usando um longo vestido branco. Braços caídos, sempre descalça costuma aparecer após a meia noite. Sempre de perfil. Assim que é notada corre e some na escuridão. O guarda anterior foi embora...Uma noite, durante a ronda deu de cara com ela sentada na mureta do Museu... chorou... passou mal... não quis mais trabalhar ali... nunca mais voltou!

Dizem que outro  “assíduo fantasma” é um grande cachorro preto. Certo dia W. tentou enxota- lo  até perceber que o tal cachorro não era ser desse mundo. O guarda correu para se esconder dentro de um dos galpões do parque.

Em outro dia M. estava dentro da sala de segurança e vigiava o Parque enquanto seu amigo fazia a ronda.  Viu pelo monitor um Sr. bem alto, todo vestido de preto, usando um chapéu também preto. Este Sr. foi até o portão colocou a corrente no portão, enfiou o cadeado na corrente, mas não fechou o cadeado...M. assustado com aquele Sr. andando a noite no parque “passou um rádio” para avisar seu amigo a ir atrás dele e manda lo embora. O amigo procurou... procurou... e não encontrou ninguém.
Na volta o amigo viu a corrente com o cadeado quase trancado e reclamou com o M.:

- Você queria me prender lá fora?

- Não fui eu... foi um homem vestido de preto!

Uma noite dessas, altas horas, o B. passou um rádio para todos os vigias do parque procurarem por três crianças que ele estava vendo no monitor.  Pareciam estar perdidas!  Os guardas procuraram... procuraram... não acharam ninguém.

Segundo  M., em São José existem outros locais repletos de fantasmas: o sanatório "Vicentina Aranha" é um deles.

Altino Bondesan em seu livro “São José em Quatro Tempos” nos fala dos sanatórios assim:“Os sanatórios são ilhas de sofrimento, ou de esperança, onde vivem os filhos do infortúnio...”.“... episódios dolorosos de sofrimento não faltam...”.

Quantas pessoas sofreram dentro daqueles prédios, quantos jovens passaram sua juventude sentados naquelas cadeiras de lona, angustiados, sem esperança, sem um familiar ao seu lado esperando a cura, nutrindo uma esperança que se esvanecia cada vez que via o seu colega de quarto morrer?

 Não é para menos que M. nos fala que após trabalhar no Vicentina Aranha como vigia por dois anos:

- “tem cada coisa lá que é inacreditável!”

Fazendo sua ronda noturna ele ouviu as janelas do pavilhão principal bater. Pediu para o carpinteiro consertar. 
De fato durante o dia viu o carpinteiro pregar enormes pregos na janela, mas naquela mesma noite voltou a ouvir... plác, plác, plác...
Imediatamente pensou ser outra janela com o mesmo problema da que fora consertada naquele dia, porem ao chegar no local  percebe que é a mesma janela, novamente aberta, sem os enormes pregos colocados aquela tarde: plác, plác, plác!

E se você for lá a noite com certeza ouvirá...plác, plác, plác...

Atualmente o Vicentina Aranha é um local aprazivel frequentado por muitas pessoas que gostam de fazer suas caminhadas entre suas belas árvores e é porisso que todos nós conhecemos aquela pequena construção que parece uma Capela, localizada na saida da Avenida 9 de julho: o antigo necrotério; sempre fechado!

De madrugada, depois da meia noite dizem que com certeza você ouvirá estranhos barulhos vindo do prédio.
Você ouve gemidos , pessoas , moveis que parecem estar sendo arrastados!
Certa noite ele saiu decidido a descobrir o que eram aqueles barulhos.  Pegou a chave do necrotério, pôs no bolso e começou a ronda. Ao passar pelo pequeno necrotério novamente ouve os barulhos. Pega a chave, abre a porta, acende a luz e nada... absolutamente nada... nem bichos, ratos, aves, nada! Segundo ele não havia nada lá dentro que poderia provocar estes sons! 
Apaga a luz, tranca a porta e... o barulho inicia novamente...

Talvez existam pessoas mais propensas a ouvir e ver esses fantasmas: M. talvez seja um deles!

Há mais ou menos um ano atrás, M. e seu cunhado perderam um grande amigo comum. Ele ainda era funcionário do “Vicentina Aranha” e estava na portaria assistindo TV.
De repente aparece na sua frente o seu amigo recentemente falecido! Ele se assusta mas recebe o recado do fantasma que deve ser transmitido ao cunhado.
Ainda assustado assim que “o amigo falecido” desaparece ele liga para o cunhado e passa o recado:

- Oh cunhado, aquele nosso amigo falecido apareceu para mim e mandou te dizer que ele ficou te devendo algo e quer te pagar!

O Cunhado após o choque inicial começou a pensar.
Pensou, pensou e só então se lembrou de que o defunto  de fato lhe devia R$ 1.000,00 reais.
Morto de medo o cunhado respondeu:

- Arre! esquece... fala para ele que já está pago!(sabe se lá como seria essa transação, não acha?).

Segundo W. alguns atores que ensaiam teatro nos palcos do Parque costumavam rir de casos assim. Não acreditaram nele quando ele disse ter visto o enorme vaso de jardim se arrastar pelo chão de um lado para o outro, até o dia que os atores ensaiavam uma apresentação. De repente vários deles viram uma estranha mulher surgida do nada que caminhava com os braços cruzados por sobre o tablado, indo e vindo, indo e vindo até que assim como veio, ela sumiu! 
Todos ficaram assustados... e o W.concluiu :

- “A gente falava para eles (os atores), eles riram! Agora? Eles viram!”.

A neblina continua a baixar. Todos nós estranhamos a névoa cair tão rapidamente sobre a cidade. Mais que depressa resolvemos ir embora...
e nesta noite a neblina foi muito densa em toda a cidade ...
(Colhida em 28/7/2012) - Doris